sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Codependência emocional na novela SALVE JORGE




Em conversa com uma amiga psicóloga antes do Natal, ela informa que a codependência emocional é um dos temas de destaque no momento. Algo que sempre existiu, mas, a partir do momento, há uma conceituação e um busca mais apurada e detalhada sobre  o tema. 
O que é está  codependente? Em resumo, está codependente é viver o outro em excesso. É querer tomar conta do outro a cada segundo de vida. Um ser codependente projeta sua existência no outro de forma plena. Ele quer ser responsável por tudo que o outro faz. 
Depois de uma breve conversa, comecei a buscar a amarração do tema em exemplos do cotidiano. 
 Recentemente, eu tinha feito uma rápida análise na letra da canção VIVE de autoria de Djavan. Essa canção mostra um acentuado exemplo de codependência. Ela também é tema da personagem Aída (Natália do Vale)  na novela Salve Jorge. O texto da personagem está sendo tratado muito bem. Parabéns à Glória Perez: sempre apresentado uma escrita sutil e reflexiva no universo humano.   

Confira abaixo a canção e uma rápida reflexão.
VIVE – Djavan
É inútil chorar
Noites enveredar
Ruir por nada
Assim...
Minha vida é sua
Como o marinheiro no mar
Sofrer, não há
Porrquê!
Desencana meu amor
Tudo seu é muito dor.
Vive...
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Livre!
Tanto o que sonhei nos
Amar a pleno vapor
Tanto o que eu quis
Fazê-la estrela
Da sagração
De um ser feliz

Desinflama meu amor,
Do seu jeito é muita dor
Vive...
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Vive

Desencana  meu amor
Tudo seu é muito dor.
Vive...
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Livre
_____________________________________________________________________________
O título da canção é VIVE.
Isso já traz as seguintes indagações: E não vivemos? O que é viver? Quais são as formas de vidas existentes?
Questionamentos só no título na canção.
A canção mostra o contexto de dependência de um ser no outro.
Até que ponto minha felicidade e qualidade de vida podem depender do outro?
A canção também diz que é inútil chorar.
Dizer que é inútil chorar não é dizer que o choro não se realize.
A classificação do inútil só aparece por causa da verificação de um choro em alguém.
O ruir por nada sugere a verticalização de um pensamento que não é edificante.
Verticalização que quando pensada mais adiante com a experiência do tempo pode trazer o seguinte pensamento: por que perdi tanto tempo  da minha vida naquele sentimento?

Há uma metáfora belíssima do Marinheiro com o mar.
O mar é a dependência maior de um marinheiro.
Marinheiro precisa do mar.
Aviador precisa do ar.
E o ser humano precisa do caminhar.
O ser humano pode ter características de marinheiro e aviador, mas como o marinheiro explora o mar e o aviador o ar, o ser humano precisa explorar o terra onde caminha.
Na canção há um pedido para desencanar.
Desencanar sugere a saída de um sentimento que não valoriza o ser.
Será que é interessante levar a vida com muita dor?
Até que ponto o ser humano pode gerenciar sua dor?
A dor é trazida com algo inerente no ser humano, mas a dor é também um aprendizado.
Nunca deixaremos de sentir dor, mas com a intensidade da dor, às vezes, temos a possibilidade de amplia-la ou atenua-la.
A canção deixa a responsabilidade para o tempo.
Mas que tempo é esse? É o meu tempo, é o seu tempo,  é o tempo do outro ou qualquer  tempo alheio?
Será que esse tempo tem a possibilidade de se juntar com um outro tempo? Acho que vou deixar o tempo resolve o que tem que acontecer.
 

 A canção também me faz lembrar de um cenário entre um terapeuta e um cliente:

 
O cliente chega e diz:
Minha vida é sua
Como o marinheiro no mar

E o terapeuta fala:
Desencana  meu amor
Tudo seu é muito dor.
Vive...
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Livre!


O cliente volta e diz:

Tanto o que sonhei nos
Amar a pleno vapor
Tanto o que eu quis
Fazê-la estrela
Da sagração
De um ser feliz


E o terapeuta:


Desinflama meu amor,
Do seu jeito é muita dor
Vive...
Deixa o tempo resolver
O que tem que acontecer
Vive


 Postado por Alan Nascimento

2 comentários:

  1. Espero que esse terapêuta aprenda a ter mais paciência e trocar os conselhos de como ele acha que o paciente deve vivenciar sua angústia por uma escuta que acolha, compreenda e ajude o paciente nominar suas dores e buscar novos arranjos em seu viver. Nesta postura esse terapeuta pode incorrer no risco de deixar seu paciente mais codependente ainda.

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  2. Anônimo, primeiramente, muito obrigado pelo comentário. Realmente, quando lemos e interpretamos a descrição das palavras ao pé da letra podemos fazer uma inferência de um profissional detentor de verdades e direcionamentos prontos e acabados para um cliente.
    Quando fiz a inferência do cenário entre o terapeuta e o cliente, não pensei, de forma alguma, em reproduzir uma cena com um terapeuta com detentor de verdades afirmando e sugerindo o que o cliente deve fazer ou não. Aprendemos muito bem, na nossa formação profissional, que somos apenas uma ajuda especializada que possibilita o cliente a fazer suas próprias reflexões e a feitura das suas escolhas. Eu, na postagem, reproduzi apenas os versos da canção. E essa canção, nesse trecho, me faz pensar nesse universo. Não de um terapeuta dizendo de forma seca e definitiva, mas como um convite à reflexão. Fico muito agradecido pela sua observação. E aproveito o momento para destacar que também devemos realizar as leituras e buscar interpretações das entrelinhas das palavras, pois um texto tem a possibilidade de dizer n coisas. E como os versos da canção direcionou você para um nível de interpretação, as mesmas palavras tiveram outra função na minha abordagem. E com certeza, outras pessoas terão a possibilidade de concordar, discordar e até criar novos recortes no texto postado. Mais uma vez, muito obrigado. E vamos continuar compartilhando nossas subjetividades.


    Alan Nascimento

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